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A evolução da humanidade é alavancada pelas vanguardas. Elas ousam, provocam, descobrem, com seu inconformismo em relação ao "status quo" em áreas como cultura, costumes, ciências, tecnologia, política, comportamentos. Sem elas, o "homo sapiens" limitar-se-ia a mero produto da evolução natural, estagnado na Idade da Pedra.
Todavia, quando vanguardas isolam-se exageradamente do conjunto da sociedade há o perigo de ruptura que fortaleça reações contrárias, isto é, o reacionarismo.
Penso que a atual onda conservadora no mundo e no Brasil, a qual abarca radicalismos e exotismos, tem parcela de apoio assentada no impacto escandalizado que vanguardas causaram com a ousadia em costumes, comportamentos e cultura. O politicamente correto, o pensamento culturalmente revolucionário e as condutas exacerbadas chocaram segmentos majoritários não preparados para tamanhas novidades ou embasados na solidez de tradições e hábitos. Somado a outros fatores, propiciou espaço para a reação, mesmo aquela mais rude e grotesca.
A pauta de movimentos conservadores vitoriosos ou em ascensão nos Estados Unidos, no Brasil e em países europeus vem recheada de conteúdos moralistas, reativos em áreas comportamentais e culturais. Encontram ressonância na base social escandalizada por ativismos das vanguardas e ávida por se refugiar na religiosidade, nos hábitos, condutas e visões tradicionais.
A globalização - inicialmente vista por pensamentos à esquerda como subproduto do neoliberalismo, mas assumida por liberais, socialdemocratas e progressistas - tem sido contestada por reação nacionalista conservadora na postura de Donald Trump, no "brexit" dos ingleses e entre partidos direitistas em países da Europa e alhures.
Nas últimas décadas, pensadores formulam nova visão do que seria a posição ideológica de esquerda, priorizando vanguarda em questões de gênero, raça, relações sociais, para além da pauta histórica do socialismo. Nessa concepção, "ser de esquerda" teria menos luta contra o capitalismo e a desigualdade econômica e mais bandeiras sobre questões de igualdade de gênero e de inovações nas relações humanas. A direita reage nos campos religiosos, culturais e de conduta, hostilizando as novas ondas e fortalecendo posturas e hábitos tradicionais. A isso atribuo massas e multidões entregando-se a propostas e movimentos conservadores.
Preocupa-me agora nos Estados Unidos a tendência de derrubar símbolos e estátuas que possam ter ligação com o passado de colonialismo, segregação ou escravidão. No exagero, nem monumento a Cristóvão Colombo (sim, ele abriu portas à ocupação europeia e à colonização) escapou. As pesquisas dizem que Donald Trump está perdendo na preferência popular para o democrata Joe Biden. Exageros das vanguardas de legítimos movimentos pela igualdade racial, ao impactarem com atitudes como a derrubada de estátuas, não possibilitarão a Trump reverter tal desvantagem e reeleger-se?